segunda-feira, 4 de maio de 2020

Aldir!!!

"Durante o período em que trabalhou no Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro, Aldir Blanc chegou a pensar que encontrara de fato sua verdadeira vocação. Apaixonou-se pelo que fazia: "Ficava transando com os loucos de lá. Dando sopa para um, remédio para outro, apartando brigas, me sentindo gente. Depois, veio o desencanto. A medicina hoje é uma viagem ao mundo dos doutores. Se você pergunta pela dor do Fulano, a resposta é: 'acostume-se'. Eu não me acostumei. Peguei um bonde de volta e vim sozinho no estribo." Fim de sonho no Engenho de Dentro, consultório na Rua da Assembléia. Dois anos: "Aplicava lá uns métodos que os colegas não gostavam. Saía com os clientes e não dava bola para esse lance de 'dr. Psiquiatra'. Ia pro meio da rua com o cara, procurava entrar nas coisas que ele sentia. Um dia, um sujeito chegou, sentou e contou seu problema. Olhei pra ele e disse que aquele problema eu também tinha. Chamei-o para tomar uma cerveja e nunca mais voltei ao consultório. Dela [da Psiquiatria] me ficou muito pouco. Sou uma vocação falha para médico. Eu me emociono. Se um amigo me apresenta a sua dor de estômago, eu quero lhe dar a mão e chorar. Isso é ridículo. Médico nenhum pode fazer esse tipo de coisa."

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